Uma das sedes da nostalgia
da infância,
e das mais profundas, é o
céu da boca.
A memória do paladar recompõe
com
precisão instantânea,
através daquilo que
comemos quando meninos, o
menino que fomos.
O cronista, se fosse
escrever um livro
de memórias, daria nele
maior
importância à mesa de
família, na cidade
de interior onde nasceu e
passou a meninice.
A mesa funcionaria como
personagem ativa,
pessoa da casa, dotada do
poder de reunir
todas as outras, e também de
separá-las,
pelo jogo de preferências e
idiossincrasias do
paladar – que digo? da alma,
pois é no
fundo da alma que devemos
pesquisar o
mistério de nossas
inclinações culinárias.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
A BOLSA E A VIDA
RIO DE JANEIRO, 1962
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